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O missionário – Capítulo 2 – Alberto Dinys

O missionário – Capítulo 2 – Alberto Dinys | Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados. Mateus 5.6

— Realmente, é uma grande satisfação escutar isso do senhor — disse Levi com um sorriso amigável (ele transmitia muita afabilidade no olhar, nos gestos, nas frases proferidas com um tom eclesiástico admirável). — Ultimamente, eu tenho visto muitas catástrofes nos meios de comunicação. Nas redes socias também. Lido várias notícias que, por diversas vezes, me deixam melancólico. São tantas as insanidades exercidas por pessoas violentas. Pessoas que potencializam a desgraça em uma sociedade já enferma espiritualmente, quanto politicamente. Então, é até melhor nem ficar apenas focado nessas notícias trágicas. Elas nos adoecem por dentro e por fora.

— Exatamente! — afirmou Nathaniel com uma visível amargura. — Pra ser sincero, são tempos difíceis. De várias incongruências que permeiam a vida de bilhões de pessoas. O que fazer? O primeiro grande passo é orar para Deus. Apenas ELE pode nos guiar ricamente neste mundo. Pedir sabedoria ao Pai Celestial. Que ELE nos conceda discernimento ao longo da vida. Porque com ELE somos mais fortes. Mais saudáveis. Mais eficazes em meio ao caos.

Enquanto Nathaniel dizia estas palavras, as belíssimas cortinas douradas, balançavam suavemente, elegantemente, em uma sincronia interessante. Ventava um pouco na cidade. Porém, não havia sinais de que iria chover.

— Mas eu estou bem — disse Levi já mudando o tom da voz. — Porque é importante se manter vivo, desperto, antenado nas alegrias que já tão disponíveis pra gente.

— Com certeza, Levi!

Então, Nathaniel levantou-se do sofá com o seu notável garbo (gostava de vestir-se como um europeu). Olhou reflexivo na direção de um belíssimo quadro que decorava uma das paredes daquele local tão rico em detalhes interessantes.

— Amanhã é um grande dia pra gente, amigo missionário! — afirmou ele.

— Com certeza!

Levi sorriu. Comentou:

— Eu não esperava ser tão requisitado pra uma missão repleta de minuciosidades. Mas aqui estou yo.

Nathaniel, aproveitando o yo que Levi pronunciou com um sotaque legal em español, disse:

— !Sé que eres un hombre de coraje en La Presencia de Dios! Y aún vas a lograr muchos éxitos a lo largo de la vida. ¡Acuérdate de eso, muchacho!

Levi não conteve uma leve risada. Afirmou:

— ¡Con Dios soy fuerte, señor Nathaniel!

— Eu acho bacana você saber se expressar em vários idiomas, Levi. Gostou de conversar com aqueles missionários norte-americanos?

— Yeah — respondeu Levi.

— Raith. God bless you!

— Amen, mister Nathaniel!

Então, Levi levantou-se do sofá também. Perguntou:

— O senhor já quer ficar sozinho?

Nathaniel colocou a mão no ombro do jovem missionário e respondeu:

— Agora não. Fique tranquilo! Vamos tomar um café, muchacho! Depois eu escrevo. A gente precisa compartilhar muitas ideias ainda.

E os dois sorriram felizes e foram na direção da sala de estar abraçados, conversando a respeito da amizade que havia entre Davi e Jônatas contada lá em 1 Samuel.

Depois que Davi terminou de falar com Saul, Jônatas se tornou muito amigo de Davi; e Jônatas o amou como a si próprio. Daquele dia em diante, Saul o manteve consigo e não permitiu que voltasse para a casa de seu pai. Então, Jônatas fez um acordo com Davi, porque o amava como a si mesmo. Jônatas tirou a capa que vestia e a deu a Davi, como também a sua armadura, e até mesmo sua espada, seu arco e seu cinto. E Davi ia aonde quer que Saul o enviasse, e era sempre bem-sucedido; por isso Saul o colocou no comando das tropas, e isso pareceu bem a todo o povo e até aos servos de Saul.

1 Samuel 18.1-5

Ao terminar de ler estes versículos, Levi fechou cuidadosamente a Bíblia Sagrada. Leonice, a tia do jovem missionário, se encontrava fumando perto da janela, observando a paisagem já conhecida. Ela afirmou com a voz rouca:

— Eu sou prostituta!

Deu uma risada irônica. Continuou:

— E gosto de ser prostituta! Porque, pra ser sincera, Levi, é muito divertido diversificar de macho. Logo eu! Uma mulher com muito desejo sexual. Adoro! E confesso que sou assim. É o meu destino! Mas você, criatura, fica nessa loucura de religião. Um moço tão bonito! Tão atraente pras mulheres! Às vezes eu até penso que você não curte a fruta, hein. Diz pra mim. Aqui é a sua titia malucona, meio drogada, mas sincera demais. Você é gay?

— Não — respondeu Levi com muita segurança no tom da voz.

Leonice já foi se irritando.

— Mente pra outro, moleque. Eu conheço veado. Já trabalhei no bordel. É melhor você se assumir logo e deixar essa vida de missionário. Agora eu vi. Mentir pra moi é loucura! Pra cima de moi?

Gargalhou. Afirmou:

— Eu sei que você é gay, Levi!

Levi respirou fundo. Afirmou:

— Eu sou hétero!

Leonice, muito magra, os cabelos loiros ressecados, com frizz, deu uma olhada de desconfiança para o sobrinho enquanto segurava o cigarro que já estava quase acabando.

— E por que não pega as gatas?

— Porque eu sou um missionário — respondeu Levi com paciência e sabedoria. — Pra senhora que ignora os ensinamentos de Deus, é estranho eu ser um homem e não ficar com várias mulheres. Mas eu sei que Deus me ilumina neste mundo repleto de tentações terrenas. Eu quero me casar virgem.

Ao escutar a palavra virgem, Leonice gargalhou debochadamente. Disse:

— Não pode ser, gente. É muita burrice! Levi, você precisa ser estudado, cara. Na moral. Isso o que você tá me dizendo é verdade verdadeira? Porque, gente, não pode ser normal.

— O que há de anormal nesta escolha? — indagou Levi com os olhos fixos na tia incrédula.

— Tudo — respondeu Leonice ajeitando o seu vestido comprado no brechó. — Tudo, amore mio.

— Mais uma vez enfatizo pra senhora: eu sou um missionário que obedece ao Senhor Jesus! Não posso me degradar como muitos homens o fazem no mundo.

— Nem Salomão resistiu aos encantos das mulheres — comentou Leonice com uma sagacidade feminina voraz. — Davi não foi nenhum santinho. Sansão contou o segredo da força dele pra Dalila. E o que te torna tão diferente assim? Você por acaso é o homem perfeitinho?

— Eu não sou perfeito! Mas eu acredito em Deus e quero obedecê-LO! Entende?

— Não. Não entendo, Levi. Isso é loucura!

— Não é loucura! E já que a senhora sabe tanto da Bíblia, por quê não decide se entregar ao Senhor Jesus de verdade?

Leonice riu. Respondeu:

— Porque é chato ser certinha!

— Deus te ama! — afirmou Levi caminhando na direção de Leonice.

Mas ela se afastou dele, dizendo:

— Eu não gosto desse seu jeito! Vai embora! Eu tenho que me arrumar. Eu não quero o seu Jesus. Eu preciso é de grana! Sabe o que eu vou fazer hoje, Levi? Eu vou me prostituir! É. Tô precisando de grana, cara! Eu tô feia! Preciso de grana pra me cuidar. Pra comprar as minhas drogas. E nem adiante vim pregar o Evangelho de Jesus. Me deixa, cara! Deixa de ser chato! Eu quero é grana! E hoje eu vou me prostituir!

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